Justiça Tributária: Um Caminho para Benefícios Equitativos aos Contribuintes

João Moura

26 de fevereiro de 2024

Os indivíduos não são responsáveis pela boa ou má sorte que têm na vida e, portanto, não merecem os sucessos e os fracasso sociais associados ao acaso.

Recentemente, entidade presidida pelo empresário brasiliense Paulo Octávio promoveu um almoço-debate realizado no Lago Sul – bairro nobre de Brasília – onde compareceram pouco mais de 100 pessoas entre autoridades governamentais, deputados distritais, federais, senadores e, na maioria dos participantes, empresários locais. No evento – conhecido como Grupo de Líderes Empresariais -, o Secretário de Economia do Distrito Federal Ney Ferraz Júnior proferiu uma palestra” Desafios e Oportunidades para Economia do Distrito Federal”. Em sua fala, Ney Ferraz citou o superávit de R$ 2,6 bilhões em 2023, o maior da história do DF. Na esteira das ações para evitar fechar o ano de 2023 no vermelho, o GDF conseguiu aprovar o aumento de 18% para 20% da alíquota do ICMS sobre produtos considerados não essenciais.

Para 2024, o orçamento prevê receita de R$ 37,8 bilhões do Tesouro local e mais R$ 23,2 bilhões do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF), composto por recursos oriundos da União. Segundo o relatório de arrecadação tributária divulgado pelo Governo do Distrito Federal (GDF), em 2023 houve aumento do ISS (+ R$332,5 milhões), do IRRF (+ R$ 268,2 milhões) e do IPVA (+ R$ 174,3 milhões). Toda essa arrecadação vem da cobrança aos contribuintes de impostos e cobranças de taxas, juros, multas… determinados pelo sistema tributário brasileiro que estabelece a forma como os impostos são arrecadados. É dividido em três esferas com tributos federais, estaduais (DF) e municipais.

O recolhimento de tributos (impostos e outros) tem o objetivo de custear os serviços prestados à população, melhorar a infraestrutura das entidades e pagar os servidores públicos.

A constituição da República Federativa do Brasil – promulgada em 1988 – já tem mais de 35 anos, mas o desejo nacional de possuirmos um sistema tributário justo ainda não se concretizou. A busca por justiça tributária não é apenas uma necessidade ética e desejo constituinte, mas também um investimento no desenvolvimento sustentável e no bem-estar de toda a sociedade.

O conceito de “Justiça” é uma determinação do espírito, fundada na razão e na consciência, para que se dê a cada um o que é seu, com absoluta imparcialidade, quanto de direito lhe cabe ou lhe é devido. Se a independência do Brasil – obtida em 1822 -, nos livrou da condição de colônia de Portugal, continuamos a ser vítimas da sistemática espoliação permitida ou praticada pelos que nos governam desde então eis que a verdadeira República ainda está em construção. Sendo assim, como a implementação de uma Justiça Tributária pode ser benéfica para o tão penalizado contribuinte?

Representando um pilar essencial para a construção de uma sociedade equitativa e economicamente sustentável, a Justiça Tributária, no contexto fiscal, deve pautar por um sistema que distribua ônus de forma justa e proporcional entre os contribuintes. Essa distribuição é crucial para garantir um ambiente onde todos possam contribuir de maneira justa e, simultaneamente, desfrutar dos benefícios proporcionados pelos recursos públicos.

Sendo assim, não é uma simples coleta de receitas pelo Estado; devendo ela buscar estabelecer uma carga tributária que seja equitativa, considerando a capacidade contributiva de cada cidadão ou empresa. Isso implica em evitar a imposição de encargos excessivos sobre aqueles que possuem menor capacidade econômica, promovendo uma distribuição mais justa dos recursos.

Um dos instrumentos essenciais para atingir a justiça tributária é a progressividade fiscal. Impostos progressivos, que aumentam proporcionalmente à renda, asseguram que aqueles com maior capacidade financeira contribuam mais significativamente para o financiamento dos serviços públicos. Essa aplicação não apenas promove a equidade, mas também fortalece o senso de justiça na sociedade.

Além disso, é crucial simplificar o sistema tributário, tornando-o transparente e de fácil compreensão para os contribuintes. A transparência reduz a evasão fiscal e promove a confiança na administração tributária, criando um ambiente propício para a conformidade voluntária.

A Justiça Tributária também pode ser alcançada por meio de políticas que incentivem a eficiência na alocação de recursos públicos, garantindo que as receitas sejam utilizadas de maneira eficaz, beneficiando diretamente a população. Dessa forma, não apenas alivia a carga sobre os contribuintes, mas também promove o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida.

Ao implementar políticas que considerem a capacidade econômica dos contribuintes, promovam a transparência e eficiência na alocação de recursos, é possível criar um ambiente fiscal mais equitativo. Isso não apenas beneficia diretamente os contribuintes, aliviando suas obrigações financeiras, mas também fortalece os pilares de uma sociedade que valoriza a justiça, a solidariedade e a responsabilidade coletiva. E isso não é apenas uma necessidade ética, mas também um investimento no desenvolvimento sustentável e no bem-estar da sociedade.

*João Moura é professor e filósofo, observador da anatomia de governos e sociedades.