PETROBRAS – “O que é, é o que foi do que será” ?!

João Moura

12 de março de 2024

O dominó da Economia e a interligação entre a Política e o Mercado Financeiro levou a Petrobras a perder R$ 55 bi em um dia.

Ao fazer intervenção sobre os dividendos da Petrobras – mesmo sem entender ou possuir um sentido claro dessa tentativa de interconexão, afirmando que “não é correto” a Petrobras querer distribuir R$ 80 bilhões em dividendos, quando esse valor poderia ser limitado a R$ 45 bilhões e, ao dizer que a Petrobras “tem que pensar o investimento é em 200 milhões de brasileiros que são donos ou sócios dessa empresa” -, Lula afeta tudo e mais alguma coisa. Ao contrário de uma grande greve de funcionários de uma empresa que pode criar benefícios não merecidos aos seus concorrentes. O Presidente perdeu o seu ozônio político e causou radiação ultravioleta no seu governo ao invés de filtrar o que disse sobre a Petrobras ficar presa à “choradeira do mercado”.

Antes disso, a Petrobras tinha divulgado o resultado de seu primeiro ano sob o comando do governo Lula III: lucro de R$ 124,6 bilhões em 2023. O número dividiu opiniões…

De um lado (governo), a divulgação foi comemorada por ser o segundo maior lucro da história da empresa — perdendo só para 2022;

Do outro (mercado), o resultado foi criticado por representar um valor 33% menor do que o ano anterior e, como, só chora quem não mama…

Cai sobre Lula, após suas falas interventivas, que ele barrou o pagamento de dividendos extraordinários aos acionistas, defendendo que os recursos destinados a dividendos sejam aplicados em investimentos (não disse quais, ainda!). Pode isso Arnaldo?! Pode. A regra é clara. Diria o famoso arbitro de futebol brasileiro.

UNIÃO FEDERAL, BNDES e BNDESPAR, juntos, possuem 68% das ações da Petrobras – são controladores da Empresa. É o Governo Federal o maior acionista da empresa e que recebe a maior fatia dos dividendos. Para quê? Obviamente que é para investir no país (para os 200 milhões de brasileiros – aos quais Lula vem se referindo) ou para reinvestir na própria Petrobras. O Governo, como controlador (e Gestor) da empresa (juntamente com seu conselho de Administração), decidem o que fazer.

Lula foi induzido ao erro (de defender a retenção integral dos dividendos) pelo Ministério das Minas e Energia, comandado por Alexandre Silveira ou é somente por conta dos investimentos que quer fazer em ano eleitoral?!

Lula, como um bom investidor do Mercado Político é um péssimo político do Mercado Financeiro. Como bem disse Lao Tsé: “O que é, é o que foi do que será”.

Isso porque, na divulgação de candidaturas e contas eleitorais, em 2022, Lula declarou R$7.423.725,78 total em Bens. Desse montante, R$5.570.798,99 são aplicações VGBL – Vida Gerador de Benefício Livre – que é uma das modalidades de plano previdenciário privado adotada no Brasil. O VGBL é um seguro de vida com cláusula de cobertura por sobrevivência. A rigor, o VGBL não é um plano de previdência complementar, pois se enquadra no ramo de seguro de pessoas e, cuja principal característica é a ausência de rentabilidade mínima garantida durante a fase de acumulação dos recursos ou período de diferimento, sendo a rentabilidade da provisão idêntica à rentabilidade do fundo onde os recursos estão aplicados.

É bom que Lula entenda que, dividendos — é a parcela do lucro de uma empresa que é distribuída entre os acionistas (investidores dela). No caso da estatal Petrobras, presume-se o que ela entrega de dividendos ao Governo, seu Controlador, que serão erradicados a pobreza, o analfabetismo, a violência contra a mulher e o abuso de crianças.

Jean Paul Prates sabe que a voz do mercado falou mais alto. No final da semana, quando a Bolsa fechou pela primeira vez depois do anúncio da retenção dos dividendos – as ações da Petrobras caíram mais de 10%, perdendo R$ 55 bilhões em valor de mercado num único dia. A queda brusca aconteceu por uma expectativa frustrada do mercado sobre as falas do Governo e seus interlocutores com o mercado.

Os dividendos extraordinários eram esperados, com R$ 20 bilhões distribuídos no 4º trimestre. Mas a Petrobras optou pelo mínimo possível: R$ 14 bilhões. No ano passado inteiro, os dividendos pagos somaram + R$ 70 bi — ou seja, os outros cerca de R$ 50 bi ficarão como reserva de caixa. A principal queixa é de uma falta de clareza sobre a divisão dos dividendos.

O mercado até teve um momento de esperança com as falas de Jean Paul Prates envolvendo os dividendos extraordinários da Petrobras (PETR4). O CEO da empresa estatal levantou que a possibilidade de distribuição de 50% dos dividendos extraordinários não está totalmente descartada, podendo ocorrer em caso de aprovação na assembleia de acionistas prevista para abril.

Diante disso, Lula voltou a criticar a política de preços da Petrobras e a atuação do presidente da empresa, Jean-Paul Prats, o que gerou incertezas e acabou azedando o humor dos investidores.

E, em entrevista ao SBT, o presidente da República afirmou que a estatal não tem de pensar somente nos acionistas. Na esteira do chefe, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que “em momento oportuno” o conselho de administração da Petrobras pode avaliar distribuir dividendos extraordinários. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a Petrobras vai analisar conveniência de quando distribuir seus dividendos extraordinários. Ficando assim, claramente, exposto o dominó da Economia e a interligação entre a Política e o Mercado Financeiro que levou a Petrobras a perder R$ 55 bi em um dia.

Quanto mais você estuda o ambiente de negócios, mais se torna óbvio e intuitivamente plausível que “Tudo afeta tudo e mais alguma coisa”. Todo o mundo faz negócios com alguém, e o que afetar alguém terá um efeito dominó sobre alguém mais. Possuir um sentido claro dessa interconexão pode ajudar a interpretar (e enfrentar) um dos vários rinocerontes cinzas que estão a mirar o Governo Lula III e a traçar as sequencias de causa e efeito que eventualmente atingem os 200 milhões de brasileiros e o empreendimento maior, chamado Brasil.