João Moura
Entre pedidos de impeachment de Lula na Câmara e o ato bolsonarista na Avenida Paulista , neste domingo, 25, a democracia pode não ser o melhor caminho, mas, com certeza, é o sistema que nos livra do inferno.
Digo isso porque temos um regime em que os cidadãos na plenitude dos seus dos direitos políticos, participam igualmente, diretamente ou através de seus representantes, na proposta, no desenvolvimento e na criação de leis, exercendo o poder da governança através do sufrágio universal.
E foi isso que aconteceu nas eleições no Brasil de 2022.
Mas, decorridos 15 meses daquele pleito e pouco mais de um ano do fatídico 8 de janeiro que levaram o terror, o ódio e a intransigência à praça dos Três Poderes, presenciamos o ato na capital de São Paulo.
Exemplos de desalinhamento não faltam. O mais recente foi a intimação do ex-presidente Bolsonaro – autor da convocatória para a Paulista – que, ao comparecer para depor na Polícia Federal, em 22 de fevereiro, ficou todo o tempo calado.
Isso é errado? Não! As vezes ficar calado é o melhor negócio – pode até não funcionar a favor do “mudo”, mas é um direito do depoente.
Depois de calar-se na PF, o capitão precisava falar, mas só o suficiente para não justificar uma prisão em flagrante.
Bolsonaro se acha melhor do que de fato é. Seu comportamento de forma recorrente é prejudicial ao Estado Democrático de Direito – mas não o é para a democracia.
Não estou dizendo isso por apoiar comportamentos prejudiciais, como os do ex-mandatário do país. Pelo contrário. Temos maneiras distintas de tomar decisões no dia a dia e que podem ser conscientes ou inconscientes. Alguns agem rápido, intuitivos e moldados em instintos. Outros preferem agir de forma racional, dependendo da sua habilidade lógica e do conhecimento próprio e adquirido.
Na grande maioria das vezes, agir rápido, focado e moldado nos instintos próprios, pode até funcionar maravilhosamente bem e é muito útil. Coisa fina mesmo. Contudo, às vezes falha. Isso acontece quando a intuição nos leva à decisão errada.
Durante quatro anos, o Brasil foi governado com um viés comportamental intuitivo – mesmo chamando de liberdade democrática com direitos. Todos sabem que na política não existe isso. É uma enrascada e tanto ser ao mesmo tempo maligno e avesso a riscos.
Então, a democracia nos salva. Foi assim em 2018 e foi assim em 2022.
Na prática, Bolsonaro continua sendo Bolsonaro: se você mentir para mim, continue mentindo; não me machuque dizendo, repentinamente, a verdade.
Mesmo sendo defensor do Estado Democrático, não fui à Paulista – acompanharei o Ato Democrático de Direito e pela Liberdade, pelos vieses comportamentais dos participantes. Com isso, demonstrei que a grandeza da democracia começa com a substituição do ódio pelo desdém gentil.
*João Moura é professor e filósofo, e observador da anatomia de governos e sociedades.