João Moura
Fora do âmbito da amizade e do amor, é muito difícil encontrar situações em que os dois lados são otários. Viajar de avião já foi quase um sympósion (tipo de banquete grego) para os passageiros. Nos bons tempos era fácil uma dose de whisky entre um voo e outro. Hoje, empresas aéreas, passageiros e governo vivem a “morcegar e macetar” num trisal sem fim – a diferença é que não existe comunicação aberta, confiança e respeito mútuos.
Digo isso em redundância, pois, o Voa Brasil – programa de governo para baratear passagens não vai baratear passagens.
O preço das passagens aéreas está no nível mais alto em 14 anos. Só nos últimos quatro meses elas ficaram 80% mais caras.
Viajar é mais realização do que intenção.
A intenção do Governo, anunciada a quase um ano, era lançar o programa de governo Voa Brasil para deixar as passagens de avião mais baratas. Só que não!
Na prática, o Voa Brasil vai depender da boa vontade das companhias aéreas. O Governo Federal tinha uma meta no oferecimento da bondade a ser paga com o dinheiro do contribuinte: disponibilizar 5 milhões de passagens – a serem comercializadas por R$ 200 ou menos – que seriam acessíveis num universo de 21 milhões de pessoas como público-alvo; principalmente aposentados que ganham até dois salários-mínimos e estudantes do ProUni.
Só que, sem dinheiro federal injetado, a parceria entre governo e companhias aéreas azedou a relação com os passageiros que seriam os possíveis beneficiados.
Trisal desfeito, nem amizade restou. Na verdade, o programa vai reunir as passagens com valores menores que já são oferecidas normalmente pelas empresas e juntar num único lugar as que já tem menor preço, consolidando tudo num só portal.
Sendo assim, restou somente, “morcegar e macetar” para o povo que pretende voar Brasil.
Quem não sabe fazer não deve ensinar. Mesmo que, na robustez, um erro seja informação; na fragilidade, um erro é um erro mesmo.
Foi um erro, lei anteriormente aprovada – retirando o direito de uma bagagem de despacho por passageiro, sem cobrança extra – que dizia “baratear” as passagens. A maioria dos erros fica pior quando se tenta corrigi-los. Acabou a amizade entre o Governo, os Passageiros e as Aéreas?! Amizade que se acaba nunca foi amizade. Nesse trisal havia pelo menos um otário.
*é um professor-filósofo (ou o oposto) e viajante brasileiro que observa traços da vida cotidiana, de governos e da sociedade.